março, 21 ~ a árvore, a poesia




com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses

António Ramos Rosa, Cada Árvore é um Ser para Ser em Nós




POESIA


Esta árvore entrou no meu corpo, com as suas raízes

de fogo; devorou-me a alma, com os ramos acesos da

inspiração; corroeu cada canto do meu ser, com as

folhas brancas da sua ânsia; e em cada primavera deu

a flor mais inesperada, com a música das suas pétalas,

e o brilho da imagem que se abre quando o olhar

procura o centro da corola. É uma árvore que não seca,

nem precisa de água; que não perde folhas e flores,

apesar de invernos e outonos; que partilha o dia

com a noite, quando procuro a sua sombra, e é a sua luz

que me enche. Podia ser uma árvore de ar livre; mas

também cresce nos quartos mais obscuros, nas salas

onde se acumula o fumo e a respiração de quem vive,

nas caves onde a luz não entra. Cortam-lhe em vão as

raízes; em vão tentam apagar o seu fogo: nasce do

ser o húmus que a alimenta; corre nas veias a seiva

que a percorre. Mas não cresce sozinha; e é em ti que

encontra a sua terra mais fértil, no frio do inverno,

o ar que a envolve, quando a tua ausência a asfixia,

a água que as suas flores bebem, na aridez do estio. Tu,

com os teus dedos de hera, os teus lábios de pólen,

e o doce musgo de palavras com que envolves o seu

tronco. Árvore partilhada, abrigando as aves do amor,

deixo que os seus ramos se estendam sobre nós,

com o seu canto de nuvem, e o seu eco de floresta.


Nuno Júdice, O Estado dos Campos,

Publicações Dom Quixote, 2003, pp. 110-111






março, 19




cortesia do Prof. Goulão





Festival da Lampreia 2011






de 25 de Fevereiro a 10 de Abril

nos concelhos de Penacova, Montemor-o-Velho, Sever do Vouga e Murtosa





6 Setembro 2010 - 3 de Março 2011 ~ contentores-monoblocos







Jocardo, poético, hora da despedida lhe chama (RETRATO VIII)

aqui, céptica, interrogo(-me): encerramos, hoje, este capítulo, o dos tempos difíceis?

- e têm sido. indubitavelmente. difíceis tempos.